Frida querida

16:56







Querida Frida,


Estive anos a fio procurando por Ivan, apertando meus olhos míope e astigmata para enxergá-lo por aí. Se bem que por vezes e vezes achasse que estava querendo ver, em algum homem o George Black dos nossos sonhos. Passei horas a fio na rede buscando por seus nomes e, pior, projetando em alguns homens o Ivan que eu tanto desejava.
Procurei-o tanto, mas nunca me recordava de você além do nome, daquela sua forma de ser branca tendo a tez preta encarnada nas pardas formas quadradas.
Procurei-o furiosamente no primeiro amor, donde pensava extrair de um frágil Rafael o Ivan que eu acreditava estar oculto no predestinado. Mas eu não suportei ser apenas mais uma, entende, querida? Eu (não) tinha um Rafael que me fez as juras apaixonadas pelas quais você acalentou desejos secretos e dissimulados, algum dia em sua vida, que deslumbrou meus sentidos e encheu os espaços da minha ansiedade.
Você sempre soube e eu aprendi tardiamente que Rafael nada poderia nos oferecer. E eu permaneci procurando Ivan, que julguei uma dia encontrar na negra tez de uma homem alto, de seu bigode respeitável de homem amadurecendo ou não, de seu poder, sua força que me impôs o doloroso limite e que sorriu sarcástico da minha dor. Ali estava o nosso tão perfeito Ivan no auge da sua real arrogância, acreditando-se e fazendo-se invencível e inquebrantável. Quase irresistível, quase avassalador. Mas eu, Frida, continuava procurando, sabendo no íntimo que a falta de uma aliança na poderosa mão nada dizia de uma possível solidão. E eu não poderia, não poderia Frida, mais do que ser apenas mais uma, ser apenas a outra.
A memória lhe ocultou a face, a personalidade em um silêncio desfigurador, e eu, continuava procurando Ivan, até o meu mundo me dizer que não suportava mais estar ocupado por sentimentos morimbundos, terminais. Ele reinvindicava em uma lúcida ação de despejo, para expandir, o lugar que era do meu idealizado Ivan.
Fui viver, com o espaço sujo da ocupação do meu Ivan. E só ontem, depois de tantos ontens, depois da chegada de um diferente anônimo, de um homem que ganhou nome fora do mundo de Ivan eu pude enfim entender que procurava por você.
Havia esquecido, que eu me encontrava na sua dor, na laceração que você levava no peito, que eu admirava sua força workaholic, seu sucesso e pragmatismo. Eu estava, querida, procurando-me, em você, através de Ivan, todo esse tempo. Que me encontrei, desconfio vagamente, depois que encontrei você, parece que, precocemente, estou a meio caminho de um encontro comigo mesma. Mas não tenho pressa alguma.
Seja feliz, bem como lhe imagino: uma mulher madura, do alto dos seus 48 anos, vivendo o amor, com o único Ivan possível, como o único que pode estar em nossos sonhos, bem mais que George Black.





Até, querida Frida!




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