Melhor assim, deveria até ser grata.
Não vou chorar a morte do seu corpo idoso com intimidade e proximidade, dilacerada e triste, depois de décadas de uma vida a dois. Que bom que paramos na primeira. Antes que isso fosse um drama incontornável, descrevesse a minha vida.
Todas as crises economizadas, o cansaço das superações e reconciliações e todas as muitas vezes em que meu amor estaria por ser vilipendiado pelo pouco caso da sua pequenez... Meu Deus, que bom! Evitamos.
E quantas praticidades, livramentos e boas obviedades nos são presenteadas com esse fim?
Você se livrou da minha intensidade, da minha melancolia, dessa dor que me aflige por existir e está latente em tanto quanto eu vivo. Mas que bom negócio!
Então, porquê me soa tão triste e eu não sei não lamentar? Porquê, depois de todas as evidências lidas e revistas, depois de toda a ostensiva maldade, eu lamento?
