Bordado rebuscado

23:16

Há anos, muitos anos, me acusam de rebuscamento da expressão da minha linguagem, de florear. E, há uns poucos anos, desde que descobri-me prolixa, aproveitaram o meu mea culpa e botaram na minha conta um exagero quase rococó. E, ao fim e ao cabo, nunca sei ao certo discernir de todo quem está falando da minha forma de expressão e quem está tentando se referir às impressões que tem sobre meu ego e suas tendências.
Adjetivo tudo quanto posso e não faço segredo de minhas tendências verborrágica, de fala confusa e, quem sabe, tudo isso acompanhe meu ego um tanto arrogante, que nunca se importou muito com essas rotulações além da dobra da esquina. Atrás dessas rotulações quase sempre estiveram um dos dois pressupostos: de que sou inteligente e/ou de que sou arrogante o suficiente para sustentar a sensação de verdade do primeiro pressuposto.
O quanto me importo com isso varia muito de acordo com minha possibilidade de viver com isso a cada momento. Desde o "pare de falar como um adulto" da quinta série do fundamental, até o "você é confusa, não entendo nada que você fala, mas prefiro que você fale no meu lugar" do nível superior, sempre tive a impressão que me imputavam com algum desdém um poder que talvez eu nunca estivesse à altura de corresponder.
Mas, a despeito do poder dessas expressões, e das gírias que por gosto ou necessidade de integração absorvi, em geral, ao fim e ao cabo, não costumo me importar depois de dobrar a esquina. É talvez a minha mais acintosa demonstração de arrogância: suponho sempre poder ser compreendida quando escrevo.
Uma vez, minha professora de redação disse na sala de aula:
- Evitem períodos longos. São propensos a erros, pois são difíceis de redigir e costumam ficar confusos...
E olhou para mim:
- Mas se gostarem e preferirem, então, sejam competentes.
E sorriu.
Não que eu creia plenamente nessa minha competência, mas, no mínimo, a simulo com alguma frequência no meu dia a dia. Não costumo me importar, mas em dias de calcinha pelo avesso tenho vontade de dizer que a língua está aí é para ser usada mesmo, explorada, sorvida em grandes doses. E quando me imputam esse misto de prodigiosidade e arrogância eu vacilo, vacilo entre o riso e a incerteza, se as pessoas não se dão conta de dizerem isso de alguém que cresceu criando estratégias de só ter que escrever os dois porquês que consegue empregar bem. Aí eu também rio secretamente, com essa ironia que volta calada e dura para aquele que a diz.
Tergiverso, mas estou certa dos contornos dos meu bordados, que não são limites, já que no conteúdo eu transbordo.




Vivo falando disso

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2 comentários

  1. Não vou mentir.. apelai para o google para entender o "Tegiverso". Você ainda se pergunta se domina essa essa língua? E eu digo dominar no sentido mais literal de ter todo o controle. Você sabe muito mais que bem aquilo que quer dizer.

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