Business is business, baby! Em 03.01.2011

17:28

Se quiser entender... http://bordadoabordeaux.blogspot.com/2010/08/na-duvida-eu-dei-no-dia-14-de-agosto-de.html


Há quase cinco meses atrás expus, ou melhor, me expus em um post de título ambíguo para contar que dei dinheiro a uma pedinte. Continuei a vê-la esporadicamente a pedir, mas, minha pobreza de estudante suburbana, remediada e amante de doces baratos não me permitiu ajudá-la nas poucas vezes que a reencontrei depois. Ela sempre chegava depois do doce.
Hoje, sem o doce antecessor e talvez com menos glicose em meu sangue e alma, me aparece a abençoada, a tempo de poder receber meu trocado escapista e feliz. Mas, parece que a alma humana tem lá sua tendência sádica-consumista dos sofrimentos dos outros. Minha deliberada falta do que fazer e hipocrisia cristã suplicava: "Conta tua história, nos emociona, nos condói, infunde-nos a vergonha de sermos parcamente felizes". Com essa exata linguagem culta, porque do que resta da minha criação católica resguardo o pendor pela alegoria trágica. Vá lá, às vezes tragicômica.
Ela falhou. Cortou parte da história inicial, mudou aspectos do enredo e deixou que a avareza de início de ano tomasse conta de mim. Depois do mensagismo de fim de ano, abraços, reconciliações e pseudo-reflexões e aprendizados, é sempre época de cair de boca nos pecados católicos. E ela deixou que a avareza me assaltasse, em cheio.
Não dei.
O motorista do ônibus desacreditado da dor dela, e vários passageiros "insensíveis" como eu (que no entanto permaneci calada), exceto duas que lhe deram dinheiro, passaram a questionar a veracidade dos fatos de sua história e em poucos minutos sua dor não era suficientemente dolorida para merecer nossos trocados e atenções. Pensei imediatamente como aquelas duas senhoras não estariam se sentindo tolas em ter acreditado e dado o trocado da bala, do geladinho ou do pão para elas. Permaneceram caladas, paradas, e eu, bancos atrás morrendo de curiosidade de prescrutar suas feições. Depois de passado o tempo em que apontamos o dedinho imundo para os outros, voltou-se para mim a indagação. E eu, que dei há meses atrás, me sentindo "O ser humano" e ainda tive a cara deslavada de postar no blog? Não estaria me sentindo soleníssima otária? Uma piegas inveterada que tomou na cara?
Não.
Não mesmo.
Business is business, baby!
Paguei pouco por meu escapismo de aspirante a transformadora frustrada. Sua dor, naquele dia era suficientemente comprável e eu suficientemente sensibilizada. Paguei meu tanto e dormi feliz pelos produtos diversos que adquiri: o compartimento cristão de meu coração apaziguado, uma reflexão, um aprendizado, um post para o blog.
Sem ressentimentos para com ela, não fosse a avareza costumeira de início de ano, que pode pôr em suspenso a potencial bondade, teria dado de novo, pois, aprendi uma nova pieguice hoje: dor não é mensurável, a despeito de todas as suposições-certezas de falsidade que levantaram, o fato de pedir e se mostrar frágil são suficientes para nos demonstrar que é preciso fazer algo. Mas... quando se trata somente de meu vil cobre sozinho, sem a ação e proposição... business is business, baby! Sem saciar minha ânsia escapista, sem tocar no doído de minha felicidade nem a Globo me arrebata doação.
Acho que vou ter que arranjar outra forma de contribuir com o controverso mundo capitalista. Ou a gente nunca mais vai negociar sensações.

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