Cynthia

14:26


Eu me lembro da primeira vez que lhe vi em Arquitetura. A imagem magnética da sua elegante cabeça negra raspada, da geometria ousada dos seus óculos, do tecido fino da blusa sem sutiã. Lembro de pensar que parecia uma coragem tão acintosamente natural sob a luz do dia e das convenções. De sentir vontade que você desmascarasse a todos, de te achar imensa, de haver uma haste, um talo mantendo seus ombros em um esquadro altivo enquanto você vai ao cerne da questão. Dignidade.

Nos últimos tempos eu tenho tentado recuperar as minhas lembranças do tempo dolorosamente silencioso da Federação em que estava rasgada de ter e nutrir Kimani. Queria achar qualquer mínima sabedoria ou epifania que lhe ajudasse a atravessar a entronização a la brujería, onde entramos hipinotizadas, com nosso modo de viver dilacerado e nunca mais possível. Atravessando o luto de si para ser amor.

Venho com minhas mãos ainda vazias dizer o que já sei: que você é valente, necessária e digna de um amor tão potente quanto o de uma criança. Que eu acho bonito, dessas coisas que fazem crer na vida, que a sua filha seja honrada de acordar e se nutrir da sua humanidade e da sua imagem tão revolucionária.

Feliz vida, minha amiga.

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