Falando nisso... daria até poema

22:50

Falando nisso, daria até poema,
daria até fonemas,
de prazer.



Daria até poema se não dilacerasse, o maldito do ciúme. Se não nos desse a catastrófica impressão de estar a um passo do fatídico evento do interesse do outro, do nosso outro, por um qualquer alguém. Ênfase no nosso, porque sem [ilusão de] posse não há quem se descare a ser ciumento. A sentir-se questionado em sua [ilusória] posse, em ter testada sua legitimidade.
Na falta de um genérico Nelson Rodrigues 2.0 portátil, não há poesia ou cores de elaborado drama o suficiente para pintar em feliz prosa o maldito do ciúme. Por isso, ele vive assim no nosso cotidiano, amesquinhado, encerrado no verbo ter conjugado em relação a nosso amado pedaço de carne, veias e potencialidade de trocar-nos. Mas haja drama para senti-lo e, deste, nem Nelson, em sua genialidade habitual daria conta. Principalmente do inconfesso, da parte do iceberg que se queda por debaixo do oceano, por parecer surreal que uma soberania admita a seu pedaço de carne que, é verdade, o maldito do ciúme é irracional.
Alguém que passou na rua ou na vida, alguém que, elaboram nossas sofisticadas teorias da conspiração, passou mas não passou de todo ou de fato. E que dor nos lega a história! Que nos acometa uma amnésia apaixonada, o que aqui nos trouxe não interessa se pode nos levar.
Daria até poema se não nos levasse o sangue ao rosto, e por vezes, às mãos. Daria até poema se pudesse ser uma prece, só um rogo singelo para que Deus Pai não nos tirasse uma graça, mas já que é um suplício, um calvário, não poderá ser, para sempre, e interdito o gênero, mas que densa prosa infeliz, de um enredo análogo a tantos outros, em que estamos no papel de quem protagoniza apenas pelo aterrador medo de não mais protagonizar.
Irônico, não?
Mas, que será mais irônico que um reles mortal [iludir-se]em posse de outro e atormentar-se em mantê-la quando sabe [sim, sabe]não tê-la?

Daria até poema, se a fúria desse maldito ciúme não manchasse de posse o que há de ser, para sempre, na poesia e no peito, libertação.

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1 comentários

  1. Você é um gênio que me assusta. Você tem um gênio que me assusta. Mesmo assim, tendo e sendo gênio, minha admiração por você só cresce.
    Ai... ciúme é a [des]graça o amor!

    Beijos. Mami Sam.

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