Confissões de uma mulher do século XXI

20:49


Dear blog,


Essa não é a confissão de uma mulher do século XXI. Mulheres no século XXI governam um país de tradição patriarcalista e patrimonialista como o Brasil, mesmo depois dos 60. Mas vamos deixar assim mesmo? No fim das contas a mulher do século XXI tem objetivações, e ser essa mulher, até então parece ser uma das minhas objetivações - não a presidente, a mulher, aquela que paga as contas, isso basta.
Pois bem, hoje pintei minhas unhas de rosa choque - Pausa para o momento blog de beleza feminina: Atitude Pink, da Coleção Penélope Charmosa da Risqué - e como é bom pintar as unhas de rosa choque! É um pequeno gesto de coragem, principalmente se na paleta de cores a de sua pele ultrapassa em muito o da caucasiana rosada. Secretamente, por olhares e contingências, pequenas reprovações e alguns ditados explícitos, mães de meninas negras ensinam que, no fundo no fundo, nossa paleta de cores só deve ter tons pastéis e que cores quentes e neons são apenas para dias festivos, ensaios de afoxés e para a perigosa classe das meninas-que-querem-aparecer.
Confesso, dear blog, que não foi assim tão fácil... Ainda lixei as unhas para ficarem menores, menos chamativas, depois de relutar um mês enquanto namorava aquele rosa emancipador nas vitrines de lojas de toda ordem.
Antes disso comprei diversos rosa-emancipadores para passar nas minhas longas unhas. Dei-os todos a minha tia Gracinha - tia também da minha "pima Bebel", sou a própria Lady Kate - , um por ano, desde os treze, porque faltava coragem de carregar dez mini-faróis pendendo das pontas das mãos. Que besteira, não é? Já disse e fiz coisas que em tom ultrapassam em muito esse rosa, que perto do que ainda há carga para fazer é um pastelzinho dos que mamãe recomenda. Mas, curioso fato, mamãe diz que ficou bonito, e eu, namoro envaidecida minhas unhas, meu singelo gesto.
É difícil principalmente porque eu sou parte do lupenproletariado da feminilidade do mundo. Enquanto uma pequena classe esbanja enquadramento ao padrão que elas mesma criaram, eu e inúmeras companheiras, não somos nem tchutchucas, preparadas, popozudas, top models ou femmes fatales. Nem esquálidas, nem esculturais. Assim nos está dada a normalidade. Comprar roupas feitas para elas com o dinheiro que é nosso, do nosso trabalho. Apertar, diminuir ou aumentar as roupas que foram feitas para elas e que, não raro, ou melhor, quase sempre, fomos nós que fizemos.
Unha rosa choque não combina com nosso estatuto, de mulheres continuadoras dos assuntos mesquinhos da humanidade: dar um lar aos homens do mundo, abrir-lhe as pernas, deles parir, a eles servir e para sempre ser uma zeladora para com nosso dever de cuidadora.
Ok, as meninas de 14 anos também pintam as unhas dessa cor, mas com a permissividade que se dá ao pouco juízo que imputamos à juventude.
Aos 20 você é uma mulher, uma potencial namorada, esposa, mãe ou profissional séria. Ênfase no séria, seriedade é a qualidade básica da boa mulher.
Ok, as mulheres na TV e nas revistas também usam esmalte rosa choque e tantas outras variações de cores vetadas à normalidade. Mas, elas gozam de uma licença poética que em verdade é uma licença comprada, assentada na liberdade historicamente dada a quem tem dinheiro.
Dear blog, gostaria de gritar o como é bom pintar as unhas de rosa choque, de chocar feliz e travessa a parte que se "conserva conservadora" em mim. E que o mundo e o patriarcalismo de exploda!

LUPENPROLETÁRIAS DA FEMINILIDADE DE TODO MUNDO, UNI-VOS, EMANCIPAI-VOS, PINTAI-VOS DE CHOQUE, DE EMBATE, DE SI!


O próximo passo é pintar os lábios de Bordô ou Carmim!
Mas esse, esse minhas queridas companheiras, é um outro embate...

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