Amor num distrito encantado

22:25

Acordamos cedo, como de costume na semana do Estágio de Vivência no SUS. Lá fomos nós, encapotados dentro de uma vã gelada e aconchegante. Rumo à Pumba, distrito de Cruz das Almas, zona rural. Lá encontramos João, um médico do SUS, atendendo os pacientes do HIPERDIA. Mas, antes de atendê-los, ele sentou para conversar, franco e sorridente, com seus olhos azuis amenos e plácidos, como quem fala a amigos queridos, a quem conhece pelos nomes, cada pessoa e não a cada adoecido.
Falou sobre amor, sobre amar-se e amar, um amor cotidiano e cuidador, de si e de outrem. Sem pieguices, embutes ou canastronas frases de efeito. Não era de um amor para hipertensos e diabéticos o amor do qual ele falava. Era um amor pelo qual você se entrega, seja a entrega de toda uma vida ao zelo pelos filhos ou da entrega que se faz em formação e militância por uma profissão, o amor por uma vida de cansaço cotidiano de labuta ou do descanso desse primeito amor. Um amor atemporal, que ficou assim encantado, nas palavras de um médico de amor.
Sorria enquanto falava, falando das dificuldades e do amor. Amor pelo que se faz, pelo que se prega, pelo que se vive e por si. Não o amor por si que entrava a convivência e a coexistência com os diferentes. O amor que reproduz vida, que toma remédios, que caminha, que se cuida e que ouve palavras encantadas de amor.
Ficamos todos, presentes, agasalhados e aprendizes, encantados, por um amor assim que deveria ser regra, por um amor do qual queríamos todos ser vigorosos amantes militantes.
Eu vi tantas coisas, e de tantas coisas há uma dor insistente no que vivo e acredito, mas o amor que encontrei naquele distrito encantado, incólume talvez das nossas mesquinhezas, esse amor, peço a Deus que faça de mim amante perene de seus valores.
Voltei talvez um tanto mais dolorida, um tanto mais velha, mais crescida, sabendo que há muito em que me consertar, mais nada em maior medida do que mais apaixonada, do que mais amante.

Ah, o amor...!

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1 comentários

  1. é tão bom te ver crescer intelectualmente, academicamente, pessoalmente..
    me sinto como uma criança admirando o desabrochar de uma flor..

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