Carta de um fim de semestre...

23:42

Eu adoro análises. E por isso sou de um exibicionismo metalinguístico vergonhoso e descarado. Talvez eu seja narcisista. Quem sabe? Talvez. É melhor combinarmos de dizer que não, para eu poder dormir hoje e mamãe ter certeza de que me criou bem. Também sou verborrágica, prolixa, dramática, infantil, mas nada disso em medida maior do que o meu gosto por análises. E o fechamento de um ciclo sempre me pede uma crítica, uma ironia, uma rendição.
Nada melhor que um fim de semestre, já que me monopoliza fazendo suas diretrizes falarem por minha boca, a qual afasta da boca, da língua de quem quero com amor.
Pois bem, o olimpo do saber é habitado por entidades. Assim, nós, guerreira anônimas, sentamo-nos do lado ávido da arena teórica para aprender com as monstras sagradas do lado experiente da arena. Será que sabem que queremos ser monstras também? E que estão no pedestal do nosso bem querer?
A Barbie marxista, a Candace, a Tia Sophia Loren nordestina, a Capoeirista Krishna, a Boneca de Boticelli e a Bonequinha de Portinari. Nós as queremos bem e se não fóssemos, em nossa maioria, fajutamente cristãs, rezaríamos todas as noites um pai nosso sonolento, pelo bem de cada uma e para que não escutem nosso diário "peguem leve", antes de cair no sono dos potencialmente justos.
Foi bom, muito bom.
Nos fez bem o sorriso convicto, a alegria politizada da Barbie marxista depois da gravidade sorridente e classuda da Tia Sophia Loren taurina. A barbie marxista sabe ser dura e Tia Sophia sabe ser doce. Andaram trocando de atribuições e competências? Estou certa de ouvir Mami Sam exclamar que não, que estamos é a olhar com mais atenção.
A candace está cansada, mas sorri incansável no objetivo de cansar com ardor. Eu a avisei, amamos lutadores e vadios, titulares e reservas, vai descansar. Mas não me levam a sério por que sou criança, um pouco maior que a boneca de Portinari, pintura animada, a que o tamanho não lhe faz jus, e a leveza e contundência nos faz bem. E essas são só as moças do ético político.
E a capoeirista Krishna? Sorriu bem mais por entre sua linda juba e trouxe testosterona amistosa para a nossa arena. Aprendemos a gingar, nós e ela. E a moça das letras, de letras, como diria minha colega, a pintura de Boticelli? Mas como parece que veio na caixinha, é a boneca de Boticelli. Tardes boas, de poesia, com ou sem poesia. Teus vestidos parecem trocados pela mão mimosa da menina que nina boneca. Tardes boas. Aprendi.
Foi tudo azul? Não. Há o que lamentar, prantear, consertar, mas, vá lá, até isso tem sua poesia controversa, e de paradoxos vivo eu. Estou cansada, mais velha, mais eu. Mas vai ficar tudo bem.
Méritos aos meus amores, minhas amigas, guerreiras anônimas e cômicas. Inteligentes também, o supra sumo no meu conceito corrompido pelo bem querer. Mas o mercado nos dará um parecer imparcial, não falta muito.

Perdoem-me a sentimentalidade, os exageros, as cores vivas, a supressão dos nossos impasses e dores cotidianas, que fizeram todo resultado ainda mais bonito. Perdoem-me dizer pouco do meu amor por minhas amigas. Perdoem tudo por que me rendo: esta confissão está bordada a bordô. É porque escrevi enquanto meu chacra básico sangrava ancestralidade.

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3 comentários

  1. Muito bom... gosto da maneira como vc escreve e particularmente da maneira como relaciona as pessoas rs confesso q algumas não consegui identificar, outras foram bem obvias rs

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  2. Companheira Cláudia,

    Impossível ficar incólume aos seus substratos mentais...
    Ele nos inquieta e incomoda mais que as trezentas milhões de "vuvuzelas" penetrando em nossos ouvidos quando precisamos nos concentrar na partida de futebol!!!
    Mais uma vez milhões de parabéns pela sua coragem, ousadia e protagonismo, num cenário tão formatadinho e previsível até mesmo quando nos consideramos subversivos a ordem mundial estabelecida pela grande matrix!!

    Dei-me conta que tenho também muitos escritos viscerais, fruto das profundas reflexões e inquitações da vida... Mas sou do tempo do diário, escrito e guardado a sete chaves que serão publicados provavelmente numa biografia póstuma não autorizada!!!

    Uma grande abraço e nos encontramos no mundo. Está Escrito!!!

    Alessivânia

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  3. Não canso de ler, reler. Bonito.

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