Mensagem para Alda

17:07









UMA, duas, três vezes e quase quatro, em uma determinada vez que me lembrei a tempo. Aperto em média duas vezes o grande botão do meio do celular antes de me lembrar que esse gesto institivo, tão comum quando estou aflita, raivosa ou nervosa, enviará uma mensagem vazia para Alda.
Alda é uma gama de pessoas em uma só, ou antes, para afirmar em definitivo que Alda nem mesmo flerta com a falsidade ou com a tresloucura, ela representa, na agenda do meu celular com sua posição primeira, uma infinidade de pessoas para quem, não mandaria uma mensagem, despropositada que fosse, em uma tarde caótica, tampouco calma. Ainda assim, obriguei-me a interromper o envio de uma mensagem vazia para Alda umas duas vezes, espantada, gritando "não, não, não!", quando me lembrei que minha raiva invariavelmente desdobrava em destinar uma mensagem para Alda.
E aí me assusto, como se uma mensagem para a prima da minha vizinha, que só encontro anualmente, fosse desencadear situações incontroláveis. E como se uma ligação de checagem, em que ouviria a voz expansiva e alegre de Alda fossem me deixar desconcertada. Talvez porque eu saiba que não saberei como explicar uma mensagem vazia e minha ausência repetida em suas festas, sem enrolar mentirinhas mornas, para a raiva e as coincidências.
Acho que me assusta mais porque eu sei que Alda é um terreno desconhecido, um território que meu bem querer não desbravou além da primeira clareira mais simpática, sem grandes motivos que impeçam, sem grandes motivações que impulsionem. Talvez, se fosse para Flora, minha quase irmã, minha confidente da adolescência, o ouvido compreensivo e o sorriso sábio, eu não me importasse e interpretasse como curso do destino que minha raiva me levasse ao colo telefônico da minha amiga mais compreensiva. Relembraríamos com saudade do tempo em que tínhamos tempo e ilusões mais profundas, perguntaria dos sobrinhos, da pequena Isabel, recordando entre risos sua mania pueril de me chamar de Aldinha, da mesma forma que alcunhara sua boneca, com o diminutivo do nome de sua bisavó.
Mas, com esse nome, minha Flor não será nunca topo da agenda, e o que quer que eu queira lhe dizer exigirá uma motivação consciente, uma ação direta. Se eu quiser portar-me como a Aldinha que eu era, se eu quiser minorar esse medo de tornar-me a Alda de sua agenda: a quem não se permitirá nem mesmo o engano de uma mensagem vazia, sem que o protocolo implícito grite por sua garganta, não por negativa interdição, mas, simplesmente, por não haver o que se diga.
Ainda me lembro, Flor, de quando as mensagens de bem querer, que minha mãe inventava de mim para você, eram tão vazias, e eu, tantas vezes, quis interrompê-las antes que finalmente estivéssemos irmanadas e cúmplices. Onde estou, Flor, que não sei mais ser Aldinha, que me amedronto de Alda? Acho que eu nunca quis sair dos amáveis diminutivos de nossa adolescência...

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