Antes dos 18

12:38

Um afrobolo para mim.


Antes de fazer 18 eu divagava sobre meus fracassos, idades e mensagens felizes de auto ajuda. Acho que essa foi a primeira carta que escrevi para mim...


13.02.2008


Eu já ouvira falar que a proximidade do aniversário, provoca efeitos diversos nas pessoas. Algumas entram em período de profunda reflexão retrospectiva dos acontecimentos, desde o fechamento do último ciclo, até a data do ciclo presente. Outras se sentem confusas mediante o paradoxo que é fazer aniversário: um ano a mais, e a menos, um a mais de vida e experiência (às vezes), e um a menos na sinistra contagem regressiva para a morte. Por fim, aquelas que sabiamente se contentam com a consciência de que mais um ciclo se completa. E que o fato de estar nele contido acontecimentos bons e ruins é um fato comum a qualquer ciclo e é o que o torna comum e singular perante os outros, simultaneamente.

Certa vez, estava eu perto de completar mais um ciclo da minha vida (fazer aniversário), e nenhuma con clusão ou paradoxo filosófico afligia meu pensamento. A mim ocorriam apenas os anseios banais (e mais ver dadeiros) de qualquer um que faz aniversário: felicitações, presentes e comemorações. Foi quando resolvi in duzir-me a ser mais reflexiva e fazer daquele ciclo uma perspectiva idealizada. Para começar, era necessário fazer um balanço do que se sucedera até ali, perguntando-me ao final se valera a pena ser o que fui até o pre sente momento.

Em primeiro lugar devo dizer que sofri grande decepção, quando me perguntei: Quem e o que fui até o pre sente momento? Não pude responder-me, e como não sou afeita a tentar decifrar o que depois de decifrado causa mais confusão, desisti. Tive mais êxito ao me perguntar o que realmente se sucedera até ali, e dividi mi nha conclusão em três partes para não me confundir: amor, família e mundo externo. Eis minha conclusão so bre o amor: amaram-me antes que eu pudesse retribuir; eu retribuí; amei outro ser; outros seres amaram-me; deslumbrei-me; traíram meu sentimento; em algum momento traí, mesmo que não o saiba ou tenha percebido; decepcionei-me; decidi não amar; o próprio amor traiu-me a vontade; aprendi que o amor é tarefa difícil e soli tária.

Apresento então as conclusões que reservo sobre minha família: amaram-me antes que eu pudesse retribuir; eu retribuí; descobri que sangue é o que mais une e dá oportunidade ao amor; descobri que o sangue é um dos fatores que está mais sujeito a desunião e um dos que mais podem dar oportunidade à discórdia; aprendi que a mar independe do sangue; descobri-me ingrata; decidi envolver-me apenas o necessário; o amor traiu-me a vontade. Por fim o mundo externo: amaram-me e odiaram-me; ensinaram-me e doutrinaram-me; acolheram-me e rejeitaram-me e dessas mesmas antíteses lancei mão.

Valera a pena ser o que fui? Não sei. Na minha idade, Lorde Lovecraft já era uma célebre figura da literatu ra, Newton já era considerado um gênio, Alexandre, O Grande, assumira o trono de seu falecido pai, e aos dois anos minha priminha fala-me de maneira eloqüente e sagaz, coisas que só me ensinariam a repetir (repetir, não falar) aos seis anos. Perto de pessoas que parecem tão dotadas do talento de viver e fazer da vida algo melhor e mais sublime, senti-me um desperdício de tempo e espaço no universo, sendo eu apenas uma mediana estudante, que no mundo só contribui para a destruição da camada de ozônio. Nova decepção.

Depois dessas aterradoras conclusões passei à segunda parte de minha “indução filosófica”: O que eu quero ser no ciclo que se aproxima? Respondi-me: Quero ser grande!Voltei à realidade: não ultrapassarei os 1,70 de altura e tampouco serei uma grande personalidade se permanecesse na inércia em que me encontrava. Ponde rando mais, descobri que tenho os mesmos ideais dos que considero sonhadores: quero ser uma pessoa feliz nas minhas escolhas, amena nas minhas imprudências, amada pelo que sou e admirada pelo o que tenho e re presento. Audaciosas as minhas metas? Não, adolescentes!

Para ser sincera, minhas conclusões não me são inéditas, estiveram sempre ali, sem precisar da proximidade de um aniversário para serem descobertas. Não eram ocultas, eu as tinha em clara consciência, principalmente nos momentos de fracasso. E mais sinceramente, não me fizeram sofrer horrores já que tenho plena convicção, que o amor é a mais bela e torpe complexidade da vida. Que a minha família é o exemplo que o amor pode assumir formas admiravelmente sublimes, mas por vezes incompreensíveis. Que o mundo me amará pelo o que tenho e por vezes pelo o que sou, e eu o odiarei por isso com a mesma força que o amo, sendo a recíproca verdadeira.

Não me fez sofrer horrores, pelo fato de saber que Lovecraft era um desenganado, Newton um homem tími do, que ao que parece, morreu virgem. Alexandre, O Grande, um ser grandioso, que era dado a arroubos de vaidade e fúria, além de ter morrido cedo. E minha priminha, dizem meus familiares, é uma criança precoce, e mal educada. E o que quero realmente ser, ter coincidido com as metas dos sonhadores, não me traz surpresa, afinal, não admitimos tudo o que somos.

O que me fez sofrer, chorar e me surpreender foi ter tido a idiota idéia dessa “indução filosófica”. Saber, sem ponderar às vezes é bem melhor, e para viver é preciso acreditar que você, enquanto projeto, vale a pena de ser amado e concluído com sucesso. Naquele momento não soube se valia a pena de ser amada, mas tive uma grande vontade de concluir-me no mínimo com dignidade. Parafraseando o dito popular: Há idiotices que vêm para o bem.

Um ciclo depois, acho tudo a mesma coisa sem precisar ponderar, e tenho errado muito e acertado pouco, sem auto-indulgência ou falsa modéstia. Não sei se o “eu projeto” vale a pena, mas não sei se feliz ou infelizmente sempre gostei de remar contra a maré, por mais que ás vezes me deixe levar pela correnteza. E remarei, até meu último suspiro, ainda que de vez em quando relaxe os braços. É, acho que estou bem, e como não gosto mais de induzir as coisas aos fins filosóficos, aqui dou fim a minha confissão. Acabou.

P.S.: Quando o seu fechamento de ciclo, ou aniversário se assim quiser chamar, estiver próximo, não sente para pensar na vida que teve e a que quer ter. Ao invés disso, sente e pense com o que deseja se presentear e ser presenteada. No mais, seja feliz.


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1 comentários

  1. Por mais contraditório que pareça.. não me surpreende a facilidade com que sou surpreendido por suas produções textuais.. você tem mesmo esse DOM.. (juro, com beijinhos em dedos cruzados, que digo isso sem o olhar de namorado. É o que penso como leitor)

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