Carta do semestre que já se foi

18:17






Nada de grandioso se fará sem paixão, disse Hegel (?) em um provável dia de inspiração.
E a paixão é mesmo uma coisa controversa, de ardor, por vezes, tortuoso. Meu semestre foi assim, apaixonado. Nem sempre como dizem as mocinhas da Globo, referindo-se a um galã qualquer com lágrimas nos olhos, que só cairão se o rímel e todo o make for à prova d’água. Muitas vezes equivaleu à expressão de Voinha a dizer que nãoseiquenzinho morreu apaixonado, consumido por uma idéia, um objetivo, que frustrado ou inconcluso fulminou-lhe, de paixão. Ou, para citar com mais imparcialidade quem não tenha meu sangue, muitas vezes foi, como diria Djavan, como desgosto de filha.

Assim, fomos todos este semestre amantes, posto que, as paixões afloraram e rímel e make que não eram Globais sucumbiram e apareceram as colombinas, Madalenas e variantes.
Por tantas reclamações nossas, foi-se a Sophia Loren Nordestina descansar de nossos gênios e descobrir-se e reinventar-se e, e... poderei dizer? (...) Volta de melenas menores, de rosto, sadio e, parece, de alma quase toda lavada. A álcool e alfazema. Se ardeu não sei, esterilizou talvez e, baiana que é, a água de cheiro depois da lavagem não poderia ser Chanel nº 5. Alfazema sim. E o axé lhe acompanha, agora eu sei.

Também a Candace retirou-se do front, só do front, com sua compulsiva busca pelo cansaço realiza, realiza e realiza e, nas horas vagas, forçosamente ociosas, vive. Desejei-lhe um rebento, uma cria, uma missão apaixonada. Recusa-se, como há anos. Vai parir, mulhé, foi o que eu disse. Usou seus fonemas soprados, seus artifícios verbais e de linguagem, seu sotaque e a tal malicia de viver para dizer-me que findou-se o tempo, não quer mais, não pode mais, vai viver de realizar. De cansar. Verdade seja dita, descansou um milímetro a mais.

A Barbie Marxista paira com seu solene ar de infindável descoberta. Paira, mas já há um semestre não para suas manhãs por nosso aprendizado. Remoçou parece, a despeito de ser tão nova, de ser uma loira inteligente, de ser mãe, de ainda estar, por assim dizer, na orquídea da idade. Mistérios femininos à parte, eu não a decifro. Onde está a fresta por onde se poderá prescrutar?

Notícias dadas, fofocas feitas, cumpre contar as novidades, trazer o novo.
O novo, né?
É.

Estou na dúvida de pensar se estivemos este semestre com a realeza ou com mulheres de Alencar. O que no fundo no fundo, não difere muito, não se exclui, não se invalida. Devo relembrar que sou uma estudante de Serviço Social e para ser sucinta sem citações teóricas (leia-se Netto ou Iamamoto), somos de uma profissão socialmente subalternizada, também por ser de maioria feminina e por passado caritativo, classista e clientelista. Que minhas mestras não me leiam a fazer este reducionismo simplista, mas, como me ensinaram a dizer os teóricos com preguiça, sem tempo ou ainda em curso da descoberta, esta é uma definição, minhas queridas, a grosso modo.

Esta prolixidade a serviço de dizer que, neste curso, reinam as mulheres, na docência e na discência.

Pois bem, da realeza, tivemos aquela que está na linha de sucessão dos tronos. Acho que por isso é um pouco maior que a média das brasileiras. Tem a beleza serena e irretocável de quem por aceitar a idade teve dela presentes generosos. Nós a vimos colossal em manhãs e fins de manhãs retóricas. E apaixonadas. E bem apaixonadas. Ela, como eu, só comunga de religião em que um homem empoderado use vestido e perdoe pecados trancado em um cubículo e, teoricamente, no vestido. Será que isto nos diz que Rainha Aurélia crê, tem apreço por tradições? Aurélia como a Senhora de Alencar. Só a paixão a submete. E olha que lendo o livro eu torcia, vai Aurélia, vai, sou mais você, não como esse reggae, não! E só a paixão, ao fim e ao cabo, trai a retórica minuciosa de Aurélia. Pena. Elas, por isto e outros aquilos, recusam o verdadeiro reinado. E, diga-se de passagem, a olhar quem reina em seu primeiro trono, tenho dúvidas sinceras de que já não é rainha por este trono que, mal sabe, cá entre nós, é seu.

Complicado? É não. É a realeza que tem suas sutilezas. E eu de plebéia impafiosa tive mesmo que guardar real silêncio diante de suas aparições, quando não, de boba da corte, num ridendo castigatmores, – eu sou meio pretensiosa – me diverti com a situação. Ri de nervoso também, mas isso fica entre nós.

Parece birra ou trocadilho, depois de falar rainha, falar da princesa, quando sabe qualquer ouvinte de contos de fada que princesa o é por que existe uma rainha e que sendo princesa só se pode ser rainha com decrepitude, morte ou fuga da primeira reinante e isto tendo sido parida por ela ou casada com quem ela pariu. O que parece atar irremediavelmente o destino da princesa ao da rainha.

Assim, a segunda (parece, mas não é um trocadilho) para emancipar seu destino tem mesmo que cortar cabeças ou laços. Mas, à parte os devaneios de história infantil - e qualquer mera coincidência com a realidade será perdoada ou calada – volto-me à princesa e que eu queime na masmorra se permanecer reportando-me para isto à rainha.

A princesa é bonita, e isto em contos de fada é meio caminho andando, e na vida real também. Tem os gestos contidos, o sorriso amável, uma malícia que não veio, uma sensibilidade à orquídea da pele. E gestos contidos. Ah, já falei disso, não é? Já, né? Mas é que a Princesa Ceci apesar de sentir e sentir, contém, contém e contém. Contém pelo conteúdo não arriscar, pelo conteúdo não ousar e inflamar e contém por conter-se, acho que por serem estas as convenções que regem a vida das princesas. Sendo que, rainhas podem tresloucar, mesmo que o recusem por racionalidade, mas, princesa não pode, princesa não foge, com o SuperMan. Só a Mulher Maravilha.

Cadê a paixão, cadê? Ficou tímida, nos idílios tortuosos do semestre sem as lentes da Globo. Mas Lady Di era princesa, princesa plebéia. Vida livre, vida intensa, morte digna? Essa é solução? Talvez. O que eu acho? Vida Loka. Foge logo, com o Super Man.
Complexas essas nossas moças, essas nossas realezas e nobrezas do ético-político...

Vida longa à Rainha Elizabeth!

Juro que estou resguardando sua identidade, mas quando a vida imita a história, quem sou eu, estudante de curso generalista, de ciências sociais aplicadas para omitir os fatos?
Ave, Rainha Elizabeth! Que reinou deslumbrante em cima dos saltos, de dentro dos conhecimentos. Seus traços de auto declarada aristocracia nordestina decadente fizeram de seu reinado algo ainda mais real. Sua sinceridade hilária, alta, sorridente, histórico-administrativa nos refez, e mais, nos compôs. Vida longa a seu reinado feliz.

Fiquei mesmo em dúvida se esta última, se esta grata descoberta, a quem agora me referirei era a Rainha Joelma, rainha do Calypso, da força nordestina loira com pele de bebê. Mas, ela vai além do passo do cavalo manco. Apaixonada que é, é uma Rainha Amazona, que desbrava e é brava, sem nem ter que tirar dos lábios rosados o sorriso feminino. Bonita, jovem, competente, quantos adjetivo mais? Eu lhe admiro pela juventude forte sem demasiada sobriedade, sem demasiadas intimidades, estas são na medida.

E minhas amigas? E minhas colegas?
Antes revelo uma recorrente coincidência, de novo esta avaliação é escrita sob auspícios do sangramento de meu chacra básico, da maldição das filhas Evas. Está, portanto, não só bordado, mas, pintado a bordô, bem ao meu gosto que sou, para além de estudante, uma incorrigível dramática e passional.

Por isto, acho, me rodeio de pessoas amantes, que só sabem amar com ardor, com paixão de se perder, se não, para nós, não vale ou vale contidamente. Então minha tchurma é das pessoas mais arrebatáveis, mais intensas, isto dito, há de se compreender que me inundam de bem querer e não posso, principalmente nestes dias, ser menos condescendente, menos elogiosa, menos parcial. Elas (e ele) são lindos, maravilhosos, inteligentes e divertidos. E creio com esperança que meus colegas de sala também sejam, mas, estes eu pouco conheço porque somos mesmo um bando de panelistas separatistas pouco integrados. Pronto, falei, pela milésima vez e quem tiver ouvidos para escutar, que ouça, ou leia.

Ai de mim, este semestre onde comecei a aprender calar! E como doem certos aprendizados, e como estapeiam o ego certas conclusões, certas verdades. Mas eu sobrevivi a este semestre, este peculiar semestre que já se foi, que morreu, apaixonado.
o
O semestre anterior também foi avaliado, aqui no bordadoabordeaux: 3º semestre

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